sexta-feira, 12 de março de 2010

Seqüestro de Agendas e Vampiros

Faz algum tempo, li um post no blog d'A Feminista sobre o sequestro de agendas sociais por grupos de interesse. Achei-o realmente interessante. Ela exemplificava com o caso do aborto.

Antes, o debate se dava em termos de princípios e do direito da mulher sobre o controle de seu próprio corpo. Mas o debate atual, talvez por influência do presidente Lula, mudou. A questão não é mais de princípios, valores. É, atualmente, uma questão de saúde pública.

Talvez, segundo ela, seja mais fácil dobrar a mente conservadora dos brasileiros por meio dessa guinada tática, mas o cerne da questão, o direito da mulher em ser dona de si, é tornado subjacente. Em post mais recente, ela afirma:

"Então a gente usa via torta pra legitimar e fazer passar as políticas públicas que nos interessam e acabamos alimentando a lógica. É assim que nós fazemos com o aborto, quando concordamos em colocá-lo na pauta da Saúde Pública. Nós sabemos que é uma questão de autonomia do sujeito. Mas fingimos que ele tem que ser liberado porque é uma questão social e que as ricas fazem enquanto as pobres morrem. É verdade isso. Mas não deveria ser o caminho da luta. Os fins justificam os meios, mas até chegar no fim as pessoas já estão bem burras." (grifos dela)


Pois então, eu queria ter sido o inteligentão que teve essa sacada. Morri de inveja mesmo. Mas, obviamente, como Joseph Climber, não poderia me deixar abater. Rasguei a procurar temas similares, agendas sociais, questões de direitos e princípios e tal, mas sou muito alienado pra isso... E veio a luz.

Vampiros. Os vampiros eram seres sobrenaturais, com um quê de metafísico que lhes trazia todo o charme de seres irresistíveis das sombras. Os filmes os tratavam como tal. "Drácula de Bram Stoker", "Entrevista com o Vampiro", "Garotos Perdidos", etc*. Mas isso mudou. Hoje, o vampirismo é uma doença, normalmente um vírus. A causa é biológica. Não se trata de uma batalha do bem contra o mal (o mal atraente, charmoso), mas sim de uma doença como o HPV. Que te dá poderes especiais. São exemplares dessa tendência moderna a trilogia "Blade", a saga "Crepúsculo", "Anjos da Noite", etc.

Enquadraram o sobrenatural.

Desenhando: o tema vampiros está para aborto, assim como os princípios estão para o sobrenatural. A mudança veio com a saúde pública, cujo equivalente são os vírus vampiros. Saúde pública e vírus são temas muito mais acessíveis do que princípios e a metafísica. Talvez os debates tenham realmente se banalizado, resultado da massificação do conhecimento. E junto com a banalização, foi-se a profundidade, e com ela, o charme...

Massssss, ainda bem que as eleições para dar uma melhorada na qualidade do debate! =D

PS: Mary W., se algum dia você vier a ler aqui, eu não queria esculhambar com o tema não, mas tenho de viver com minhas limitações.

* Eu queria muito acrescentar Vamp nesse metié, mas aceito que seja uma novela. A melhor de todos os tempos, por sinal.



2 comentários:

  1. Acho que jamais conseguiria fazer uma analogia dessas...
    Beijoca Lu.

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  2. O fato de usarem esse argumento não quer dizer que as pessoas estão aceitando mais a idéia. Tem alguma pesquisa sobre isso?

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