quarta-feira, 10 de março de 2010

O segredo de seus olhos

Vi, domingão agora, um filme interessantíssimo com minha melhor amiga que, por sinal, está de malas prontas para mudar-se para terras hermanas. Filme ganhador do Oscar e tudo!
O filme "O segredo de seus olhos" trata da inciativa de Benjamin Espósito, personagem de Ricardo Darín, em escrever um livro sobre um estupro seguido de assassinato que ocorrera em 1974, em Buenos Aires. O personagem, já aposentado, procura sua antiga chefe, Irene Hastings ("pronuncia-se em inglês, não em espanhol"), para que ajude a rememorá-lo e elucidar o crime.

A dinâmica entre os dois se deve a um amor platônico cultivado por Espósito que, embora correspondido, jamais se concretiza. De forma bastante sutil (até o momento em que se confrontam com um antigo adversário profissional), o trama expõe que o romance não desabrochou em razão das diferenças sociais. Espósito, um simples Oficial de Justiça subordinado a Irene, não pertencente à aristocracia, não poderia envolver-se com sua amada. Em certo trecho, Irene afirma que sua família é praticamente senhora feudal no interior do país.

Complementarmente, o jovem bancário esposo da vítima diz ter conseguido extrapolar sua timidez e abordá-la, casando-se algum tempo depois. Espósito, talvez por nunca ter conseguido concretizar seu amor, solidariza-se especialmente com o bancário, que se apaixonou, expôs-se, casou-se e teve seu amor destruído. Em algum grau, há uma ligação mais profunda de Espósito com a dor da perda do marido. Ambos são vazios, ambos perderam a quem amam. Espósito, entretanto, ainda pode mudar sua história...

E para isso vai atrás do suspeito que, adivinhe!, também era apaixonado pela vítima. O insight de Espósito surge da observação de um álbum de fotos de família, em que o perpetrador olha destacadamente a esposa, de forma que não combina com o ambiente. Numa bela rima, algumas fotos de Irene e Espósito são apresentadas durante o longo e Espósito, da mesma forma, tem um olhar para Irene que se destaca... Irene, inclusive, regateia "Você sempre sai com esse olhar bobo"! =D

Para mim, o momento mais significativo, ocorre ao fim da trama, quando... SPOILER, SPOILER ...Espósito e o esposo dialogam, e o diretor Juan José Campanella, inspiradíssimo, foca parcialmente os personagens. Nesse instante, o esposo é focado apenas do nariz para cima, sua boca é escondida pelo ombro do protagonista. Espósito, da mesma forma, tem apenas uma de suas faces filmadas, sendo a outra encoberta pela filmagem da nuca do marido. O diretor parece dizer, sutilmente, que ambos são homens incompletos, pois faltam metade de suas caras, ou, "suas caras-metade", de forma diferente, mas similar. Eles não se completam, mas são igualmente deficientes... Lindíssima metáfora!

Belíssimo também é o trabalho do roteiro, completamente amarradinho, coerente, coeso, intenso, misterioso e divertido! Sandoval, assistente de Espósito, é um espetáculo a parte. O Diretor, vale a pena lembrar, é diretor de episódios de Law and Order: SVU, a parece ter aprendido perfeitamente como fazer reviravoltas e levantar a bola do debate!

Ao fim da projeção, minha amiga se debulhava em lágrimas! O filme a tocou no aspecto emocional, nos amores perdidos... O filme me tocou também intelectualmente! Prato cheio para o cérebro e para as emoções!


Ficha Técnica: Diretor Juan José Campanella. Roteiro: Eduardo Sacheri e Juan José Campanella. Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Guillermo Francella, Javier Godino, Carla Quevedo, Mariano Argento, José Luis Gioia.

3 comentários:

  1. Não entendi. O marido da vítima se casou depois com Irene? Esse filme tem cara de ser megachato, mas gostei da idéia da metáfora.

    No final, quem matou?

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